Ceará bate recorde de US$ 1 bilhão em exportações antes do impacto das tarifas de Trump

Exportações do Ceará ultrapassam US$ 1 bilhão no 1º semestre e atingem alta histórica às vésperas de novas tarifas dos EUA
Faltando menos de 72 horas para a entrada em vigor das novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, o Ceará alcançou um marco expressivo em suas exportações. No primeiro semestre de 2025, o estado exportou US$ 1,072 bilhão — crescimento de 82,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse desempenho consolida uma trajetória de avanços no comércio exterior cearense e marca a sexta vez, desde 1997, que o Estado ultrapassa a marca de US$ 1 bilhão em exportações. Trata-se ainda do quarto melhor resultado semestral da história cearense, atrás apenas dos anos de 2022, 2019 e 2021. Somente para os Estados Unidos, foram enviados US$ 556,7 milhões em mercadorias.
Na manhã desta terça-feira (29), uma delegação de empresários do Ceará se reúne com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, para debater estratégias que minimizem os impactos do tarifaço e reforcem a competitividade das exportações brasileiras.
Ceará lidera crescimento entre os estados
De acordo com a plataforma ComexStat, do MDIC, o Ceará teve o maior avanço percentual entre todos os estados brasileiros no primeiro semestre de 2025. Enquanto Pernambuco, segundo colocado, aumentou suas exportações em 19%, o Ceará obteve mais de quatro vezes esse crescimento.
Apesar disso, o Estado ainda representa uma parcela pequena do total exportado pelo Brasil, com apenas 0,65% de participação. No mesmo período, o país como um todo registrou uma leve queda de 0,65% nas exportações.
Estados como São Paulo (20%), Minas Gerais (13%) e Rio de Janeiro (12,85%) seguem como os maiores exportadores nacionais, puxados por produtos do setor primário, como soja, petróleo bruto, minério de ferro, café e carne bovina.
Desempenho impulsionado pelo setor metalúrgico
Segundo Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da FIEC, o crescimento das exportações do Ceará foi fortemente impulsionado pela retomada dos embarques de produtos da indústria metalúrgica, em especial ferro e aço. Ela explica que os números de 2024 foram subestimados por problemas no registro de exportações, o que torna o salto deste ano ainda mais expressivo.
Entre janeiro e junho de 2025, as vendas externas de ferro e aço atingiram US$ 534,7 milhões, um aumento de 220% frente ao mesmo período do ano passado. O segmento representa cerca de metade de tudo o que o Ceará exportou neste ano.
Superávit com os EUA e perspectivas de negociação
Diferente da balança comercial brasileira, que é deficitária em relação aos Estados Unidos, o Ceará mantém superávit com o país. Em 2024, as exportações cearenses para os EUA superaram as importações em US$ 208 milhões. Os principais produtos comercializados com os norte-americanos, como calçados, pescados e itens da agroindústria, também cresceram.
Ainda assim, a possível entrada em vigor do tarifaço, no dia 1º de agosto, traz incertezas. A sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros pode impactar negativamente o desempenho de estados como o Ceará, que concentra mais de 50% de suas exportações nos EUA.
Karina Frota alerta que o cenário ainda é incerto e que qualquer mudança nas condições de acesso ao mercado norte-americano pode comprometer cadeias produtivas locais. Ela defende a diversificação de mercados e o fortalecimento institucional como caminhos para proteger os avanços conquistados.
Exportações ainda representam fatia modesta do PIB estadual
Mesmo com o crescimento nas vendas externas, as exportações ainda têm peso pequeno na economia cearense. Em 2024, o Estado exportou US$ 1,46 bilhão, sendo US$ 659 milhões para os EUA. Esse valor representou apenas 1,67% do Produto Interno Bruto estadual, estimado em R$ 214,6 bilhões.
O economista Ricardo Eleutério, da Academia Cearense de Economia, observa que a economia brasileira, de modo geral, é pouco aberta ao comércio internacional — reflexo também no Ceará. Segundo ele, as exportações e importações do país representam cerca de 10% do PIB, enquanto a média global é bem maior.
Tarifaço como estratégia de pressão comercial
Para o economista, a decisão do presidente Donald Trump de impor a tarifa de 50% funciona como uma tática para forçar negociações bilaterais. Ele explica que os EUA costumam anunciar medidas rígidas para provocar reações dos países afetados e, posteriormente, negociar condições mais favoráveis.
Eleutério adverte, no entanto, que esse tipo de protecionismo, se mantido a longo prazo, pode ser prejudicial para os próprios Estados Unidos, gerando inflação e desestimulando investimentos em inovação e produtividade.
Redação ANH/CE
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