Nordeste se mobiliza: governadores e federações buscam saídas para impactos do tarifaço

Governadores e indústria nordestina articulam ações para reduzir impactos do tarifaço
Comitiva da região apresenta propostas ao Governo Federal; setor industrial cobra crédito emergencial e mais tempo para negociação
Às vésperas da entrada em vigor do chamado "tarifaço", os governadores do Nordeste intensificaram articulações políticas e institucionais em busca de alternativas para reduzir os impactos da sobretaxação sobre produtos brasileiros. A medida, que entra em vigor nesta quarta-feira (6), tem preocupado tanto os governos estaduais quanto o setor produtivo regional, especialmente a indústria de alimentos e bebidas, que tem forte presença nas exportações do Nordeste.
Na manhã desta terça-feira (5), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), e outros chefes de Executivo estadual participaram de uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), conhecido como “Conselhão”, em Brasília. O encontro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, reuniu representantes de diversos setores da sociedade civil e da economia para debater os efeitos das novas tarifas de importação e exportação.
Além do Conselhão, os governadores também foram convocados para uma assembleia do Consórcio Nordeste, no período da tarde. A pauta comum gira em torno da construção de uma agenda conjunta que permita, por um lado, minimizar os danos econômicos imediatos da medida, e, por outro, ampliar o diálogo com o Governo Federal sobre soluções estruturantes. A participação da governadora Raquel Lyra neste segundo encontro ainda não havia sido confirmada pela sua assessoria até o fechamento desta matéria.
Entre as propostas debatidas por Pernambuco estão a criação de uma linha especial de crédito para empresas afetadas pela nova política tarifária e a compra, por parte do Estado, de frutas e outros produtos que deixarem de ser exportados, destinando-os à alimentação escolar da rede pública. A intenção é mitigar prejuízos aos produtores e, ao mesmo tempo, fortalecer políticas públicas de combate à insegurança alimentar.
Indústria pede tempo e socorro financeiro
Enquanto os governadores pressionam por soluções políticas, o setor industrial nordestino também se mobiliza. Na segunda-feira (4), as federações das indústrias dos nove estados da região se reuniram para consolidar uma pauta de reivindicações que será levada ao Governo Federal. O principal pedido é a prorrogação do início da aplicação das tarifas, de modo a permitir mais tempo para negociação e planejamento das empresas.
Outro ponto sensível envolve a possível adoção de medidas de reciprocidade por parte do Brasil em relação aos Estados Unidos, principal alvo das tarifas. Para representantes do setor, responder com taxação a produtos americanos pode aprofundar a crise comercial e gerar efeitos negativos para outras cadeias produtivas do país.
Além disso, a indústria cobra a criação de linhas de crédito emergenciais para manter o funcionamento de empresas que serão diretamente atingidas pelas novas taxas. De acordo com os dirigentes das federações, porém, os critérios e diretrizes para esses financiamentos ainda não foram definidos — e só devem ser divulgados após o início da vigência das tarifas.
Aposta no diálogo e na diversificação de mercados
O presidente da Associação Nordeste Forte — braço regional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Cassiano Pereira, defendeu a construção de um consenso entre governo e setor produtivo. Para ele, o caminho deve ser o diálogo, evitando perdas tanto para os empresários quanto para os trabalhadores e governos estaduais.
“Precisamos sair da lógica do perde-perde e construir soluções ganha-ganha. Esse é o momento de união entre estados, federações e indústrias para proteger a economia do Nordeste e garantir competitividade para nossas empresas”, afirmou Pereira.
Já o superintendente da Sudene, Danilo Cabral, apontou a diversificação dos mercados internacionais como estratégia importante diante do novo cenário. Segundo ele, o Brasil precisa ampliar suas relações comerciais com países da Europa e da Ásia, reduzindo a dependência de mercados tradicionais como os Estados Unidos.
Cabral também destacou a importância de redirecionar parte da produção para o consumo interno, fortalecendo a economia local. Ele citou a iniciativa do governo de Pernambuco como exemplo prático dessa abordagem, com a utilização de frutas antes exportadas na merenda escolar da rede pública estadual.
Próximos passos
Com o início do tarifaço marcado para esta quarta-feira (6), os próximos dias serão decisivos para a definição de medidas emergenciais e estruturantes por parte dos governos e do setor produtivo. A expectativa é de que novas rodadas de negociação sejam abertas com o Governo Federal, a fim de evitar prejuízos severos à economia nordestina, especialmente em áreas mais vulneráveis.
Redação ANH/PE
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